Porque a vida que levamos faz isso com a gente!

5.23.2011

MAisNOEL

Vinha de hoje, com sorte, conversando com Manoel de Barros.
Manoel me lembra de gostar de escrever.
Vim burilando na cabeça um trabalho de Filosofia que escrevia.
Manoel chamou Bernardo e a mulher de sete peitos para abrir meu horizonte (calma que é poesia, meu amor)
Escrevia sobre a natureza.
Manoel torceu a natureza bem na minha frente e eu achei engraçado.
Vim rindo que nem criança, junto às pessoas que íam passar oito horas desaprendendo o mundo.
Ri delas e ri de mim.
Ninguém nem se dava conta que dentro de mim se rasgava e costurava o tecido do texto,
torcendo sentidos.
Depois de um fim de semana procurando o sentido, torcendo o bom senso eu encontrei.
Mas ele não estava pronto ainda usava pijamas, remelento, coberto de preguiça.
Nem bem acordou e eu já tava lá torcendo ele.
Porque escrever sério, usando o sentido como se tecido fizesse roupa.
Essa segunda feira eu achei de dizer que a natureza se conhece no pedaço de céu que eu tenho em casa,
aquele que fica por detrás da laranjeira do meu vizinho, na parte de cima da minha rede.
Ontem quando olhei não vi porque tentar prender ele dentro do livro.
Melhor ainda foi achar ele hoje, no Metrô.
Mas o Metrô fica embaixo da terra! Como foi que viu o céu?
Vi porque Manoel me lembrou que o horizonte se abre com três linhas de teia de aranha
e não com muitas linhas de prosa.


 
 
 
 


5.18.2011

Pra que pedir perdão

Mais música! Essa eu nunca tinha pensado de experimentar da forma que experimentei. Nem um pouco de sweet nesse bitter.
 

Pra que pedir perdão?

(Moacyr Luz e Aldir Blanc)

Se é pra recordar dessa maneira,
sempre causando desprazer,
jogando fora a vida em mais uma bebedeira,
ó, sinceramente, é preferível me esquecer
 
Eu te prometi mundos e fundos
mas não queria te magoar
Eu não resisto aos botequins mais vagabundos
mas não pretendia te envergonhar

marquei bobeira...
 
Vi muitas vezes o destino
ir na direção errada
e a bondade virar completo desatino
a carícia se transformando em bofetada
 
Ah, eu sou rolimã numa ladeira
não tenho o vício da ilusão:
hoje, eu vejo as coisas como são
e estrela é só um incêndio na solidão

Se eu feri teu sonho em pleno vôo
pra que pedir perdão se eu não me perdôo?
 
 
 
continuar assim, daqui a pouco exporto fel como commoditie.

5.06.2011

"Com pedaços de mim eu monto um ser atônito" - Manoel de Barros

Acho que o que mais me diverte em mim mesmo é minha falta de memória. Esqueço as coisas com a maior facilidade.
 
Normalmente isso é visto como algo prejudicial, como se houvesse uma certa infidelidade em nossa mente. Um descompromisso com o percebido.
 
Cá por mim não penso assim. Sou meio que nem peixe que redescobre o aquário a cada volta que dá. Vivo reencontrando coisas que admiro. Não que encontre agora, ande um pouco e encontre de novo. Reencontro pois esqueço. Esqueço e quando me vejo perante, admiro novamente. Normalmente essa segunda admiração me faz recordar do primeiro encontro e aí, à alegria da admiração, do contemplar algo que sinto compor comigo, soma-se uma segunda alegria, a de saber que apesar de esquecido, meu admirar é meu mesmo. Não é uma dimensão pontual e recortada. É uma sintonia de mim comigo mesmo.
 
Falo isso porque ontem lembrei que poesia é uma coisa que desperta em mim sentimentos muito raros. Ontem me reencontrei com a poesia através de Manoel de Barros. Sua grandiosidade de observar pequenos movimentos, de torcer a palavra e com ela o mundo.
 
Poesia é uma grande inspiração para que possamos lembrar sempre que o mundo que vemos ou é criado por nós a cada momento ou é aceito por nós a cada volta. O primeiro mundo envolve nosso ambiente interno com nossa fauna e flora internas produzindo sentidos e afectos e vai sempre, necessáriamente produzir uma diferenciação deste mundo que entra em nós por nossos sentidos. Podendo ou não produzir novas composições externas, perceptíveis por aqueles que não compartilham este mesmo afecto. A essência do artista é essa, produzir e reproduzir novas composições e permitir que novos "afectos e perceptos" possam ser criados nos observadores. A segunda forma de ver o mundo implica em uma tentativa de replicação do mundo dito concreto, com seus processos e métodos, resulta numa tentativa de continuidade, uma repetição em preto e branco, incompleta. "As coisas não podem ser e não ser a mesma coisa no mesmo momento". Essas duas posições não são necessariamente antitéticas ou contraditórias o tempo todo, uma vez que a cada momento nos é dada escolher entre um mundo ou meu mundo.
 
Juntando duas formas de arte que considero como fundamentais para minha composição interna, cinema e poesia, tive um reencontro com a poesia. Não que tenha havido um afastamento. Acho sempre que tem um Leminski sugerindo hai kais ao invés de um anjinho ou diabinho no meu ombro. Óbvio que nem sempre damos atenção à um ou outro e tampouco eu à esse diabanjinho curitibano. É mais como um: "É por isso que eu gosto de tal coisa", uma reverberação. E não é só no sentido da arte poética, por suas regras e formas. É como se desse uma concomitância de pensamento em mim e com a obra. Uma plenitude de sentido que é só meu. Eu que vejo, reconheço na obra um pedaço de mim.
E quando esqueço e reencontro, posso sentir que não só reconheço um pedaço de mim ali, mas que ali já o havia antes - isso já passou por mim e produzindo um novo clarão de admirância, encontrou outro que ali cochilava.
 
 
 
O olho vê,
a lembrança revê,
e a imaginação transvê.
É preciso transver o mundo.
 
- Manoel de Barros -
 
 
Assistindo e recomendando: Só dez por cento é mentira - a desbiografia oficial de Manoel de Barros. - de Pedro Cezar
http://www.sodez.com.br
 


5.03.2011

Bartleby, O Escriturário

Texto de Herman Melville adaptado pro teatro. Mostra o perigo de não brincar do jeito que todos brincam.

Bartleby, O Escriturário
Espetáculo é uma adaptação de uma novela do autor de Moby Dick


A peça é uma adaptação para teatro da novela homônima do célebre romancista norte-americano Herman Melville, autor de Moby Dick. Bartleby é um conto que revela o curioso e, às vezes, trágico rumo que a vida pode tomar quando alguém ousa romper com os rígidos padrões pré-estabelecidos. A história é narrada por um advogado de Wall Street, homen de meia idade, cercado por severos padrões da sociedade de seu tempo. Possuindo a firme convicção de que “a melhor maneira de se viver é de se encarar tudo com tranqüilidade”. Para este homem, o primeiro mérito é a prudência e o segundo o método. Em seu escritório de advocacia, convive com estranhos personagens que realizam o ofício “robotizante” de “copista”, ou seja, profissionais que passam dias, meses, anos, reproduzindo longos processos.

Autoria: Herman Melville
Direção: João Batista
Elenco: Duda Mamberti, Gustavo Falcão, Claudio Gabriel e Eduardo Rieche

19 a 29 de maio de 2011 (de quinta-feira a sábado, 21h, e domingo, 19h), e de 07 de junho a 27 de julho de 2011 (terças e quartas-feiras, às 21h)
Local:Teatro Laura Alvim
Informações:Classificação indicativa: 12 anos Ingressos: R$20 / R$10 (meia)

http://www.cultura.rj.gov.br/evento/bartleby-o-escriturario

É poesia, mas usa o heterônimo de exposição.

Fernando Pessoa, plural como o universo
Exposição apresenta obra do poeta e de seus personagens fictícios

Depois de levar mais de 190 mil pessoas ao Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, a obra de um dos maiores poetas da língua portuguesa do século XX será celebrada no Centro Cultural Correios, no Centro do Rio, até 22 de maio. Em Fernando Pessoa, plural como o universo, o público terá a oportunidade de conhecer, ou reconhecer, algumas de suas personas, que se revelam nos versos assinados por seus heterônimos – personagens-poetas com identidade própria.Com curadoria de Carlos Felipe Moisés e Richard Zenith e projeto cenográfico assinado por Helio Eichbauer, a exposição mostrará toda a multiplicidade da obra de Pessoa e pretende conduzir o visitante a uma viagem sensorial pelo universo do poeta, fazendo-o ler, ver, sentir e ouvir a materialidade de suas palavras.A exposição Fernando Pessoa, plural como o universo é uma realização da Fundação Roberto Marinho; com patrocínio da Rede Globo, do Itaú, do Banco Caixa Geral - Brasil e da Fundação Calouste Gulbenkian; apoio do Consulado Geral de Portugal, em São Paulo, da Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, do Centro Cultural Correios, do Rio de Janeiro, do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, e do Ministério da Cultura por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura; e produção da Fazer Arte.

De 25 de março a 22 de maio de 2011
De terça-feira a domingo, das 12 às 19h
Local:Centro Cultural Correios
Informações:Rua Visconde de Itaboraí, 20 – Centro - Rio de Janeiro

Entrada franca

www.visitefernandopessoa.org.br



http://www.cultura.rj.gov.br/evento/fernando-pessoa-plural-como-o-universo

Nosso tema principal

Quem costuma perder tempo lendo o que raramente escrevo aqui, já deve ter percebido que um tema que ocupa espaço neste sítio é a dificuldade de mantê-lo alimentado. Não que haja alguma dificuldade em jogar conteúdos os mais diversos, mas há de fato uma resistência tremenda de minha parte ao exercício da escrita. Escrever é sofrer. Não que seja doloroso, ou sofrido em termos físico, mas sim porque é tão difícil externar de forma tão rígida aquilo que povoa nosso interior. Somado a isso a falta de tempo que contagia a todos que vivem neste mundo contemporâneo, ocidental e capitalista.
 
O tema é sempre algo difícil de ser escolhido. Normalmente não por uma abundância, mas ao contrário por uma escassez. O confronto com o papel em branco aterroriza o pensamento, que outrora fervilhava de idéias e raciocínios. A expressão mostra-se um exercício de corte, de formato. Requer um estranhamento com um qualquercoisa que mova o pensar em direção a essa forma-texto, do contrário entra no turbilhão do espírito e se completa com todos os outros processos que o ocupam, sejam estes úteis, ou práticos, sejam as vagas do pensar que o estudo da filosofia provoca naquele que se expõe a ele. E cá entre nós, muitas das coisas que lemos por aí, e por aqui também, creio, deixam de fazer sentido, pois a conversa é exatamente entre a pessoa e seu turbilhão interno. Aqui é assim e criei o espaço pra isso.
 
Mas a questão do porque escrever é pungente. Sendo dotado de uma conversa interna, que é coerente para si, pra que tentar comunicar? Respondo. Por que tem coisas que não cabem em nós. Nossos motivos, nossos motores, muitas vezes não são suficientes somente para nós e mesmo correndo o risco da incompreensão, que é um limite do leitor e não do autor, fazemos o esforço de exprimi-los, comprimi-los, reduzi-los e finalmente exprimi-los. Escrever é sofrer, mutilar-se. Mas viver também. A vida implica na expressão e o desejo desta conduz à escrita.
 

Expressão é não caber em si. É sentir o binômio dor/prazer em sua essência. É caminhar no fio da faca ou contar que já nos cortamos.
 
Qualquer dia eu perco a cabeça e volto aqui.

 

 


Ainda musical

Música é um elemento produtor de significados. E a boa música é aquela que é capaz de se ressignificar e se compôr com quem ouve, através de novas conexões, produzindo novos sentidos no espírito.
Música é sempre uma experiência pontual. Assim, a  cada vez que ouvimos uma música, pela mesma que seja, somos capazes de identificá-la com elementos atuantes imediatamente em nosso espírito. Possibilitando que sempre alcemos novos patamares, sejam de compreensão ou mesmo a possibilidade de um novo clarão no espírito.
 
 
 
Sou um animal sentimental
Me apego facilmente ao que desperta meu desejo
Tente me obrigar a fazer o que não quero
E você vai logo ver o que acontece.
Acho que entendo o que você quis me dizer
Mas existem outras coisas.
 
Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade,
Tudo está perdido mas existem possibilidades.
Tínhamos a idéia, mas você mudou os planos
Tínhamos um plano, você mudou de idéia
Já passou, já passou - quem sabe outro dia.
 
Antes eu sonhava, agora já não durmo
Quando foi que competimos pela primeira vez?
O que ninguém percebe é o que todo mundo sabe
Não entendo terrorismo, falávamos de amizade.
 
Não estou mais interessado no que sinto
Não acredito em nada além do que duvido
Você espera respostas que eu não tenho mas
Não vou brigar por causa disso
Até penso duas vezes se você quiser ficar.
 
Minha laranjeira verde, por que está tão prateada?
Foi da lua dessa noite, do sereno da madrugada
Tenho um sorriso bobo, parecido com soluço
Enquanto o caos segue em frente
Com toda a calma do mundo.

 
- Sereníssima - Dado Villa-Lobos / Renato Russo / Marcelo Bonfá